Com a população crescendo, a esperança do mundo por mais comida recai sobre o Brasil, com destaque para o Mato Grosso, que apesar de já ser o maior produtor nacional de grãos, ainda pode converter milhões de hectares de pastagens degradadas em lavouras. Porém, só isso não será suficiente. É preciso aumentar a produtividade, ou mesmo acrescer o número de safras por ano, o que só é possível com a implantação de irrigação, muito comum em outros países.
Com esse propósito, foi oficializada nessa semana, com discussões que envolveram diversas entidades durante dois dias (13 e 14), em Canarana-MT, a criação de um polo para pesquisas sobre irrigação no município, atualmente o segundo do estado de Mato Grosso, que possibilitará estudos em todo o Vale do Araguaia e Xingu, levantando dados sobre o potencial hídrico para fomentar a instalação de pivôs em lavouras da região.
Coordenado pela Aprofir (Associação dos Produtores de Feijão, Pulses, Grãos Especiais e Irrigantes de Mato Grosso) e pelo IFMT, o Polo de Irrigação do Vale do Araguaia e Xingu tem a parceria de diversas entidades e das três esferas governamentais. O Município de Canarana, por exemplo, doou a área onde serão feitas as pesquisas. Já o Governo de Mato Grosso colocou toda sua estrutura como apoio ao projeto. E o Governo Federal fará investimentos na área de abrangência do polo para fomentar a irrigação na região.
Com os estudos, por exemplo, será possível saber quanto de água tem nos rios e no solo e quanto disso pode ser utilizado. A iniciativa também aproxima os órgãos responsáveis pelas outorgas e até mesmo facilita o acesso a financiamentos. Investimentos em gargalos de infraestrutura para facilitar a instalação de pivôs também estão previstos, como em energia trifásica. Com isso o produtor terá sustentação científica, jurídica e econômica para investir.
Conforme apresentação no evento, o Brasil tem pouco mais de oito milhões de hectares irrigados, sendo que apenas 170 mil ficam em Mato Grosso, muito pouco para o maior produtor nacional de grãos. O potencial brasileiro é de mais de 50 milhões e, no Estado, pode-se chegar a até quatro milhões de hectares com pivôs. Em Canarana, atualmente existem apenas 150 hectares irrigados, mas o potencial pode chegar a quase 130 mil. Na região do Araguaia Xingu, o potencial de instalação de pivôs alcança mais de 1,6 milhão de hectares.
Com irrigação, além de trazer maior garantia na produtividade da primeira e da segunda safra em casos de veranicos ou secas, possibilita ainda uma terceira safra, algo impossível nos demais países produtores mundiais. Isso gera renda e emprego, diminui a pressão por abertura de novas áreas de florestas e ainda garante a oferta de mais comida, pressionando os preços para baixo, o que beneficia, principalmente, a população mais carente.
“Se por algum motivo acontecerem frustrações seguidas nas safras de soja e de milho, ou mesmo se elas se tornarem inviáveis, o Mato Grosso quebra. Por isso, o governador Mauro Mendes tem sido um parceiro nos projetos para criação dos polos de irrigação, o que dá mais segurança para o produtor rural e também possibilita a produção de novas culturas em terceira safra, como é o caso do gergelim, do qual Canarana já é o maior produtor nacional”, disse o diretor executivo da Aprofir, Afrânio Migliari.